Alinhados, como se estivessem em um batalho, funcionrios da Galderma, uma t venture entre Nestl e L’Oral, indstria farmacutica exclusivamente dermatolgica, posaram para esta foto que voc v logo ao lado. Eles fazem parte de uma tropa de elite que, empunhando os seus iPads, comea a realizar o funeral do computador pessoal. O PC, da forma que conhecemos, morreu. 604247

Na semana ada, 120 funcionrios da Galderma foram s ruas com seus tablets e se transformaram na primeira fora de vendas do Pas a usar o equipamento da Apple de forma corporativa. Agora, quando visitam mdicos, esse exrcito de homens e mulheres de iPad faz a demonstrao tcnica dos produtos nesta pequena geringona tecnolgica que parece uma tbua (da o nome tablets), mede 24 centmetros de altura por 18 centmetros de largura, pesa 680 gramas e tem espessura de apenas 1,3 centmetro.

“Agora, consigo atualizar o meu material promocional em apenas um dia. Antes, demorava 40 dias”, afirma Juan Carlos Gaona, CEO da Galderma do Brasil. “ uma enorme vantagem sobre os meus concorrentes.” O batalho de iPads da Galderma o smbolo de uma grande transformao no setor de tecnologia.

Com mais de 30 anos de vida (e de bons servios prestados), o computador pessoal est com os dias contados para os tablets. E essa febre, que tomou o mercado mundial, chega oficialmente ao Brasil a partir de novembro, com o lanamento do Galaxy Tab, da Samsung. Apple, Dell, ZTE, Huawei, Cisco, Awaya e HP prometem seus produtos para os prximos meses.

Apesar disso, os PCs no vo deixar de existir. Suas vendas globais, inclusive, crescero vagarosamente nos prximos anos, chegando a mais de 500 milhes de unidades em 2014. Mas eles perdero o status de ser os protagonistas da computao.“A maioria das pessoas vai usar computadores portteis e com telas sensveis ao toque, como smartphones e iPads”, diz Nicholas Carr, jornalista americano e autor do livro A grande mudana, que defende a tese de que a tecnologia se transformar em um servio pblico, assim como a energia eltrica.

“Mas os PCs, tanto os laptops como os desktops, continuaro a ser teis para certas tarefas que exigem grandes telas e teclados tradicionais.” Esse o ponto crucial. O CD no desapareceu, mas ou a ser um produto de nicho com o surgimento da msica digital. O mesmo vai acontecer com o computador pessoal.

O mantra dessa nova era a mobilidade e a conexo total com a internet de qualquer lugar a qualquer hora. Os tablets levam este conceito s ltimas consequncias, com a vantagem de ter uma tela bem maior do que um smartphone e uma interface revolucionria que permite fazer tudo com o toque dos dedos, sem a necessidade de um mouse e um teclado – itens que vo estar ao lado do PC em seu obiturio.

“Depois dele, abandonei o meu notebook”, afirma Jorge Moskovitz, diretor para a Amrica do Sul da empresa de tecnologia Serena Software, que a pelo menos duas semanas por ms visitando pases pela regio.O diretor de novos negcios da rede de tev esportiva ESPN, Jos Papa Neto, no esqueceu ainda do desktop, mas agora s a 10% de seu tempo com ele. “Sou um fervoroso usurio de Blackberry e do iPad”, diz ele. “Nas viagens curtas, s levo o iPad.”

O comportamento destes dois executivos demonstra uma tendncia que acontece com quem usa um tablet. O computador vai ficando de lado, esquecido. E o motivo simples: eles substituem a maioria das tarefas que um usurio comum faz no dia a dia. O que surpreendente, nesta aurora dos tablets, que eles esto encontrando tambm um espao dentro das empresas mais rpido do que se imaginava. Observe mais uma vez o exemplo da Galderma, cuja operao brasileira fatura R$ 250 milhes.

Visitar mdicos faz parte do DNA da indstria farmacutica. At hoje, isso feito com material de papel. “Tentamos usar notebooks, mas eles so pesados, demoram a ligar e sempre travam”, alega Mrcio Rodrigues, diretor de marketing da companhia. Desde o lanamento do iPad, a empresa importou seis mquinas, desenvolveu um aplicativo prprio e foi a campo testar o aparelho.

Agora, todo o material est no tablet, com uso de imagem de alta definio, vdeos que permitem demonstrao de procedimentos e do mecanismo de funcionamento dos produtos aos mdicos. Deu to certo que a empresa resolveu equipar os seus 120 representantes, em um investimento de R$ 350 mil. A ideia agora ser exportada para as subsidirias da Alemanha e da Austrlia.

O impacto desses equipamentos, no entanto, ir alm. Os tablets tm recursos para ar a internet, ver vdeos, ouvir msica, receber e enviar e-mails, organizar fotos, jogar games, ler livros eletrnicos e revistas. Alis, o prazer da leitura muito superior ao de um PC. Verstil, eles influenciaro vrios setores econmicos, que vo do editorial at o educacional.

No Brasil, Chaim Zaher, que dono da rede de ensino COC, est comprando at 30 mil tablets para dar aos seus alunos a partir de 2011. a maior aquisio de tablets no Pas, um investimento que pode chegar at a R$ 20 milhes. “Queria comprar 60 mil, mas o problema que eles no tm para entregar”, afirma o empresrio. As mquinas, produzidas na China, sero usadas para substituir o material didtico no formato em papel.“Em dois anos, todo o material vai ser digital”, diz Zaher. “Essa uma revoluo que vai atingir as escolas privadas e pblicas.”A rpida ascenso dos tablets, de fato, impressiona. Relatrio da Bernstein Research informou que o iPad se tornou o aparelho eletrnico com a mais rpida adoo entre os consumidores, com 3 milhes de unidades vendidas nos trs primeiros meses de comercializao.

O Brasil entra oficialmente na era dos tablets – apesar de milhares de iPads j fazerem parte do cotidiano de muitos executivos e de empresas via importao direta – a partir de novembro. A coreana Samsung deve ser a primeira, ao lanar o Galaxy Tablet, que roda o sistema operacional Android, do Google. “Ele ser fabricado no Brasil e ter recurso de tev digital”, afirma Hamilton Yoshida, diretor de marketing da companhia. O iPad deve chegar logo em seguida. Ao longo do prximo ano, vrios outros aparelhos tambm sero vendidos para o consumidor brasileiro, como o da chinesa ZTE. “Nosso grande diferencial ser o preo”, diz Eliandro vila, presidente da subsidiria local da companhia. A tambm chinesa Huawei seguir estratgia semelhante.

“Esse um mercado que nasce com muitos concorrentes, por isso nosso objetivo ser o mais barato”, afirma Marcelo Najnudel, gerente da empresa. A Dell aposta na versatilidade de seu produto. “O Streak um tablet que substitui o smartphone”, declara Sandra Chen, gerente de marketing da companhia.

A Positivo, maior fabricante de computadores do Brasil, tambm deve entrar nesse segmento em 2011.“ bvio que vamos ter um tablet, no podemos ficar fora desse mercado”, afirmou Hlio Rotenberg, presidente da companhia.

Quando foi lanado, em abril, o iPad parecia um iPhone gigante. Muita gente ironizou esse fato. Outros criticaram Steve Jobs. O presidente do banco de investimento Credit Suisse, Jos Olympio Pereira, envolvido em vrias aberturas de capital no Brasil, era um dos cticos.Em uma viagem aos EUA, comprou o equipamento. Logo em seguida, teve de adquirir mais dois, pois seus filhos no o deixavam usar o tablet. Hoje, o computador de sua casa est acumulando teias de aranha. Detalhe, ele irmo de Marcos Pereira, um dos donos da editora Sextante.Ambos so netos de Jos Olympio, famoso editor brasileiro. “Depois do iPad, ei a acreditar de vez no livro digital”, diz Olympio Pereira. Mais um sinal de que as revolues do iPad esto em quase todos os lugares. Vida longa aos tablets.